31 dezembro, 2013

A espiritualidade e o nosso Eu na correria do cotidiano

Novamente aqui estou no último dia do ano para escrever em meu blog. A verdade é que desde 2009, ou seja, há cinco anos, minha vida entrou num ritmo de correria, sempre com preocupações, planos, objetivos e busca de soluções para problemas cotidianos. O curioso é que tudo isso quase sempre girando em torno de papéis sociais. De mim mesmo, do meu Eu, cujo lado espiritual é muito forte, pouco dei atenção nesses cinco anos e isso explica muito o porque deste blog ter ficado parado durante este período.

E como fazer diferente? Ou seja, como viver neste cotidiano corrido da atual sociedade onde somos obrigados a assumir papéis sociais, sem, no entanto, deixar de lado a nossa essência e a nossa espiritualidade? Esse é o tema desta postagem.


Sendo bem sincero, eu não sei. Ainda não sei. Tanto é que vivi esses últimos cinco anos aprisionado nessa correria deixando a mim mesmo de lado. Mas, depois desse tempo todo, e percebendo o quanto tal correria não levou a nada, pude perceber algumas coisas que talvez sejam pistas para descobrir a resposta. A seguir vou citar duas delas que a meu ver estão totalmente interligadas: padrões de comportamento e padrões de pensamento.

Os padrões de pensamento muitas vezes ocorrem sem a nossa percepção. Criamos papéis sociais e conforme envelhecemos, nós nos sentimos cobrados pela sociedade, e por nós mesmos, a assumirmos esses papéis, ainda que nos desagradem. Aqueles que se recusam, em sua maioria, o fazem de forma extremista, o que é igualmente prejudicial, e no fundo, com isso acabam assumindo outro papel social, o do sempre-contra-tudo. Confundimos responsabilidades e cobranças sobre o que é realmente importante. Muito por causa da perda de foco em algo essencial: o que estamos fazendo aqui? Respondemos essa pergunta diariamente com nossas escolhas, pensamentos e atos. E muitas das vezes o fazemos automaticamente, sem qualquer reflexão, mas apenas por reação ao externo, via os tais padrões de pensamento e comportamento.

“Você precisa se destacar em sua empresa. Você precisa dar o melhor de si. Você precisa tirar a melhor nota da turma. Você tem que ser a pessoa mais bonita. Você não pode errar. Você tem que ser o que esperam que você seja.” Tudo isso vai transformando nosso Eu em um verdadeiro turbilhão de cobranças, culpa, revolta e principalmente medo. Acontece que sempre que estamos com medo, reagimos com mais cautela e com uma necessidade maior de ter segurança. E o que mais traz uma sensação de segurança, ainda que falsa? Fazer o comum, fazer o que esperam de você. Ser igual traz a sensação de segurança. Ser elogiado traz sensação de segurança. E com o medo que as pessoas vivem, ter esses “momentos de segurança” se transforma em tudo o que buscam. Mesmo que com isso, precisem deixar de lado quem são e o que o seus interiores estão lhes pedindo.

Não é preciso deixar de cumprir totalmente os papéis sociais, pois isso seria a tal rebeldia sem razão citada anteriormente. Mas não devemos fechar os olhos para dentro de nós, tentando atender apenas o que vem de fora, devido a principalmente, o medo.

Por que estamos aqui? Será que é para saciar de forma ilusória esse nosso medo? O medo da rejeição, o medo de descobrir nossos limites, o medo de errar, o medo de ser mais cobrado, o medo de não corresponder, o medo.... o medo que paralisa e te faz agir por reação de forma automática, como dito acima. E o que é a forma automática? É o padrão. De pensamento e de comportamento.

De pensamento, pois acabamos pensando igual aos outros. De comportamento, pois acabamos reagindo igual aos outros. E por que isso é uma falsa segurança? Porque você não está sendo você, não está criando uma raiz segura dentro de si mesmo. O medo jamais pode ser vencido fora da gente, mas sim dentro. Ele nasce dentro de nós e é somente dentro de nós que pode ser superado. Tanto é que pessoas paranóicas, com um medo absurdo de algo, podem estar no ambiente mais seguro possível que ainda assim, volta e meia estarão com a mesma sensação de medo de antes. Não adianta buscar fora, precisa ser dentro.

Da mesma forma, não adianta atender apenas o que vem de fora, as obrigações e papéis sociais de fora. Precisa antes, atender o que vem de dentro. A resposta para a pergunta “por que estamos aqui?” deve ser buscada dentro de cada um, e então, refletida fora.

Quer dizer que devemos largar nossos empregos, “chutar o balde” e anarquizar tudo? Acredito que dificilmente isso te levaria para dentro de você. Normalmente isso seria apenas mais um ato de reflexo, no caso, devido ao extremo cansado de tudo o que está vivendo. Pode dar certo? Pode, mas é pouco provável.

Penso que existem outros caminhos, mais naturais e que atendem melhor a necessidade de mudança. A busca de dentro deve vir aos poucos. Não precisa ser da noite para o dia, até porque padrões de pensamento e comportamento não são mudados da noite para o dia. Você não os adquiriu assim e não vai mudá-los desta forma. Toda mudança brusca tem o ato brusco apenas como injeção de ânimo, de rompimento com o passado para abrir espaço ao novo. E o novo virá com novos padrões. Se você apenas rompe, mas não cria novos padrões de pensamento e comportamento, os velhos padrões retornam com o tempo. É o que ocorre com a maioria das pessoas. Foi o que ocorreu comigo também antes. Romper apenas não é suficiente. É o primeiro passo, mas os passos seguintes precisam ser dados.

Se os seus padrões de pensamento e comportamento estão apenas reagindo ao que pede a sociedade, deixando você mesmo de lado, sua essência, sua espiritualidade, então rompa com eles e mude-os. Ter fé é o principal caminho para isso. A fé é a melhor solução contra o medo. Neste período da mudança é necessário ter consciência de que o medo fará você querer sempre voltar aos padrões antigos, por esses já estarem “encaixados” com a sociedade. Esse encaixe anterior continuará a te dar a falsa sensação de segurança, não importando se eram padrões bons ou ruins. O medo muitas vezes tem mais força do que pensar se algo é bom ou ruim. Tanto é que existem pessoas que tem medo do sucesso. É algo bom, mas o medo pode possuir uma força maior de comando no emocional da pessoa. Então ter fé é fundamental também nestes momentos, para te dar força de continuar a mudança, resgatando o seu Eu e a sua espiritualidade.

E não se preocupe com aceitação e encaixes, pois, uma vez que você esteja novamente em harmonia com o seu eu, não só a sociedade vai estar encaixada, mas a sua vida como um todo estará encaixada e com significado para você.  As pessoas também vão se aproximar mais de ti. Todo mundo quer ficar ao lado de alguém feliz e equilibrado (ainda que seja uma pessoa agitada, mas com equilíbrio nos atos e pensamentos). 

Ser aceito pelos outros provavelmente não é a sua função na terra, mas sim uma conseqüência por você ser quem você é, por buscar sua razão existencial em comunhão com o Sagrado e com respeito e amor às demais pessoas.

Por fim, a própria fé te dará uma segurança ainda maior que qualquer outra coisa. Te permitirá soltar mais a sua vida, sem a necessidade de ter controle sobre tudo e ser aceito por todos. Dará força e tranqüilidade para buscar dentro de si a sua essência e aflorar novamente a sua espiritualidade.


Enfim, o assunto é extenso e relacionado a diversos outros aspectos. Alguns deles eu falei pouco aqui e outros acabei nem tocando. Mas a ideia desta postagem foi de criar uma reflexão e quem sabe, os primeiros passos para uma possível e verdadeira mudança para melhor em 2014. Um feliz ano novo para todos! J



gentiam, floral da fé


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